"O Céu Também Tem 20 Anos"

Um céu Jovem

Há quem diga que o Céu é apenas o destino dos que morrem, e que, portanto, nada tem a ver com a juventude. Que o Céu pertence aos velhos, aos santos de vitral, às vozes graves dos templos. Mas não. O Céu também tem 20 anos.O Céu tem 20 anos quando uma alma, em meio às dúvidas e agitações do tempo presente, ousa parar. Quando, no silêncio do próprio quarto, alguém de vinte anos se ajoelha — mesmo sem entender tudo — e diz: “Estou aqui, Senhor.” 

O Céu tem 20 anos quando a juventude não é entregue à distração, mas ao ardor; quando o vigor da idade não se consome em vaidades, mas se oferece como sacrifício vivo, em segredo. 

O Céu tem 20 anos quando alguém escolhe o bem, mesmo quando ninguém aplaude, mesmo quando custa. Há uma beleza trágica e gloriosa nos vinte anos. Não são mais a infância, onde tudo é protegido, nem ainda a maturidade, onde tudo é exigido. É uma terra de fronteira. E fronteiras, na vida espiritual, são campos de batalha. Por isso tantos se perdem. Por isso tantos se salvam. O mundo oferece, aos vinte anos, a ilusão de que a vida é feita para ser “aproveitada”. Mas aproveitar é verbo de consumo. 

O Evangelho não usa essa linguagem. Ele fala de perder para ganhar, de servir para ser livre, de morrer para viver. Quem tem vinte anos tem diante de si uma estrada, sim. Mas mais do que isso: tem uma escolha invisível, decisiva. A alma já está sendo moldada. O destino eterno começa a ser esboçado nos gestos ocultos, nos amores silenciosos, nos pecados consentidos ou combatidos.

A juventude como altar

A juventude não é uma sala de espera. É um altar. Não se trata de esperar a hora certa para levar Deus a sério. Trata-se de entender que a hora certa é agora, porque é agora que se está vivo. Há vinte anos santos. Há vinte anos perdidos. O que define um ou outro não é a quantidade de erros ou acertos visíveis, mas a direção interior: para onde está voltada a alma? Para o que é eterno, ou para o que brilha e apaga? O Céu tem vinte anos quando alguém decide não viver como se fosse o centro de tudo, mas como quem foi chamado. Quando alguém entende que a liberdade não é fazer tudo, mas fazer o que é justo, mesmo quando ninguém mais quer.

O Céu não é só um fim. É uma presença.

O Céu não começa depois da morte. Ele começa onde Deus é amado acima de tudo. Por isso, ele pode estar presente numa alma jovem que guarda os olhos, que se confessa com humildade, que luta contra o egoísmo, que ora mesmo sem vontade.

O Céu não é evasão, é presença.

Não é alívio, é direção. Viver com vinte anos como quem pertence ao Céu é uma ousadia silenciosa. É uma rebeldia santa contra a cultura da aparência e da pressa. É dizer “não” ao mundo que diz que tudo é relativo. É dizer “sim” à verdade, mesmo sem saber como isso vai acabar.



Há santos de vinte anos

Não é metáfora. É realidade. Há jovens mártires, jovens castos, jovens missionários, jovens anônimos que viveram para Deus. Uns morreram cedo. Outros envelheceram. Mas o Céu já os habitava quando tinham vinte anos. Porque tinham decidido a quem pertencer. Talvez você não tenha o mesmo fervor. Talvez tenha mais dúvidas do que certezas. Mas saiba: o Céu não exige que você esteja pronto. Ele exige que você se entregue. É isso que o torna possível — e tão próximo.

Um apelo direto

Se você tem vinte anos — ou algo perto disso — e está lendo estas linhas, saiba: você está em uma encruzilhada eterna. Cada escolha moral, cada gesto de fé ou de desobediência, cada silêncio interior... tudo conta. Não viva como se isso fosse apenas uma fase. Isso é vida real. Não caia na mentira de que "depois você se acerta com Deus". O amanhã é um risco. O agora é um dom. Diga com simplicidade: “Senhor, não sei muito. Mas quero ser Teu. Mostra-me o caminho. Guarda meu coração. Corrige minha vaidade. Ensina-me a amar.” E diga isso todos os dias, mesmo sem sentir nada. Isso é juventude voltada ao Céu.

O Céu tem vinte anos porque...

  • Porque Maria tinha algo perto disso quando disse “faça-se”.
  • Porque João era jovem quando se inclinou sobre o peito do Mestre.
  • Porque tantos santos começaram a sua vida de oração nesse tempo limítrofe.
  • Porque Deus ama a juventude que se oferece, e não a que se perde em si mesma.

Podemos concluir, dizendo...

O Céu também tem 20 anos porque a eternidade começa no coração de quem, mesmo jovem, decide viver como quem já pertence a Deus. Não é preciso esperar a velhice para ter sabedoria. Basta abrir os olhos e saber que esta vida é breve, mas não é sem sentido.Se você tem vinte anos — ou já os teve — lembre-se: o Céu não é o fim. É o começo que Deus deseja fazer em você agora. Viva como quem carrega eternidade nos ombros. Mesmo jovem. Sobretudo jovem.

O Céu também tem vinte anos porque a juventude foi feita para ser santa.